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Por Jules Kortenhorst *
Por décadas, previsões assutadoramente imprecisas subestimaram o potencial da energia limpa, ganhando tempo para a indústria de combustíveis fósseis. Mas, como mostram duas novas análises de instituições reconhecidas, as energias renováveis já convenceram o mercado e agora estão prontas para um crescimento exponencial.
Por décadas, especialistas argumentaram que a transição para energia limpa custará menos e ocorrerá mais rápido do que governos, empresas e muitos analistas esperam. Nos últimos anos, essa perspectiva foi totalmente justificada: os custos das energias renováveis caíram muito mais rápido do que o esperado, enquanto a implantação avançou mais rapidamente do que o previsto, reduzindo os custos ainda mais.
Graças a este ciclo virtuoso, as energias renováveis se espalharam. Agora, novas análises de duas instituições de pesquisa autorizadas foram adicionadas à gigantesca biblioteca de dados já disponível, mostrando que uma transição rápida para energia limpa é o caminho menos caro a seguir.
Os gestores de políticas públicas, líderes empresariais e instituições financeiras precisam considerar urgentemente as implicações promissoras desse desenvolvimento. Com a 26ª Conferência das Nações Unidas para a Mudança do Clima (COP26) em Glasgow se desenrolando nestas últimas semanas, é imperativo que os líderes mundiais reconheçam que atingir a meta de aquecimento de 1,5 ° Celsius do acordo climático de Paris não significa fazer sacrifícios; trata-se de aproveitar oportunidades. O processo de negociação deve ser reformulado para que se trate menos de divisão de encargos e mais de uma corrida lucrativa para implantar tecnologias de energia mais limpas e mais baratas.
Com o mundo já sofrendo com eventos climáticos extremos causados pelo clima, uma transição rápida para energia limpa também tem a virtude de ser o caminho mais seguro à frente. Se falharmos nesta tarefa histórica, corremos o risco não apenas de desperdiçar trilhões de dólares, mas também empurrar a civilização para um caminho perigoso e potencialmente catastrófico da mudança climática.
Só podemos imaginar por que os investidores subestimaram por décadas os custos decrescentes e o ritmo acelerado de implantação de energias renováveis. Mas os resultados são claros: as previsões equivocadas garantiram trilhões de dólares em investimentos em infraestrutura energética que não é somente mais cara, mas também mais prejudicial à sociedade humana e a toda a vida no planeta.
Agora estamos diantes do que pode ser nossa última chance de corrigir décadas de oportunidades perdidas. Ou continuaremos a desperdiçar mais trilhões em um sistema que está nos matando, ou passaremos rapidamente para as soluções de energia mais baratas, limpas e avançadas já disponíveis.
Novos estudos lançaram luz sobre como funcionaria uma transição rápida para energia limpa. No relatório The Renewable Spring da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), o pesquisador Kingsmill Bond mostra que as energias renováveis estão seguindo a mesma curva de crescimento exponencial das revoluções tecnológicas anteriores, seguindo padrões previsíveis e bem compreendidos.
Bond observa que a transição energética continuará atraindo capital e gerando impulsos tecnonlógicos. Mas esse processo pode e deve receber apoio para garantir que prossiga o mais rápido possível. Os formuladores de políticas que desejam impulsionar a mudança devem criar um ambiente propício para o fluxo ideal de capital. Bond apresenta claramente a sequência de etapas que esse processo envolve.
O exame das revoluções de energia anteriores revela vários insights importantes. Primeiro, o capital é atraído por rupturas tecnológicas e tende a ser detinado para as áreas de crescimento e oportunidade associadas ao início dessas revoluções. Como resultado, uma vez que um novo conjunto de tecnologias passa seu período de gestação, o capital torna-se amplamente disponível. Em segundo lugar, os mercados financeiros atraem mudanças. À medida que o capital se move, acelera o processo de mudança, alocando novo capital para indústrias em crescimento e retirando-o daquelas em declínio.
Os sinais atuais dos mercados financeiros mostram que estamos na primeira fase de uma transição energética previsível, com desempenho espetacular dos novos setores de energia e a redução da classificação do setor de combustíveis fósseis. Este é o momento em que formuladores de políticas experimentados podem intervir para estabelecer a estrutura institucional necessária para acelerar a transição energética e obter os benefícios econômicos da construção de cadeias locais de fornecimento de energia limpa. Como podemos ver nas tendências de mercado destacadas no relatório IRENA, a mudança já está em andamento.
Reforçando as conclusões do relatório IRENA, uma análise recente do Institute for New Economic Thinking (INET), da Oxford Martin School, mostra que uma rápida transição para soluções de energia limpa economizará trilhões de dólares, além de manter o mundo alinhado com o meta de limitar a média de temperatura global em 1,5 °C – estabelecida pelo acordo de Paris. Um caminho de implantação mais lento seria financeiramente mais caro do que um mais rápido e incorreria em custos climáticos significativamente mais elevados de desastres evitáveis e deterioração das condições de vida.
Devido ao poder do crescimento exponencial, um caminho acelerado para as energias renováveis é obviamente alcançável.
O relatório conclui que se a implantação de eletrolisadores solares, eólicos, de baterias e de hidrogênio continuar a seguir as tendências de crescimento exponencial por mais uma década, o mundo poderá alcançar a geração de energia com emissões zero em 25 anos.
Em sua análise do relatório, a Bloomberg News sugere como uma “estimativa conservadora” que uma rápida transição para a energia limpa economizaria US$ 26 trilhões em comparação com a continuidade do sistema de energia de hoje. Afinal, quanto mais energia solar e eólica construirmos, maior será a redução de preço dessas tecnologias.
Além disso, numa resposta ao estudo do INET Oxford, Bill McKibben lembra que o custo dos combustíveis fósseis não cairá. Além disso, qualquer vantagem tecnológica da curva de aprendizado para petróleo e gás será compensada pelo fato de que as reservas de fácil acesso já foram exploradas. Portanto, o estudioso alerta que a energia solar e a eólica economizarão o dinheiro dos consumidores, por isso a indústria de combustíveis fósseis continuará tentando desacelerar a transição para mitigar suas próprias perdas.
À medida que testemunhamos o desenrolar da COP26, é essencial que os líderes mundiais entendam que já temos soluções de energia mais limpas e mais baratas prontas para serem implantadas agora. Alcançar a meta do Acordo de Paris não significa fazer sacrifícios; trata-se de aproveitar oportunidades. Se começarmos a trabalhar agora, podemos economizar trilhões de dólares e evitar a devastação climática que, de outra forma, afetaria nossos filhos e netos.